segunda-feira, dezembro 20, 2010

Reproduzir com vários machos enriquece espécies

2010-12-13

Peixes "guppy" praticam poliandria
As fêmeas que se reproduzem com vários machos enriquecem as espécies e tornam-nas mais adaptáveis às mudanças ambientais, revela um estudo coordenado por um cientista português, na Escócia.

Miguel Barbosa, biólogo especializado em animais marinhos, publicou em Novembro no "Journal of Evolutionary Biology" as conclusões de um estudo realizado com peixes tropicais de água doce "guppy" que muda a perspetiva científica sobre o papel do comportamento sexual das fêmeas na evolução.

"A ideia de que existe um macho ideal que as fêmeas procuram deixou de existir. Há vários e as fêmeas têm um papel vital", realçou, em declarações à agência Lusa.
Para o cientista, "estes resultados destroem o mito da fêmea submissa, que deixa de ser um veículo passivo e passa a ser crucial para o sucesso da sua própria reprodução e tem de ser considerada uma força relevante quando se estudam os processos evolutivos".

Estudando a reprodução em regime de poliandria (com vários machos diferentes), Miguel Barbosa descobriu que a espécie "guppy" ganha por nascerem "filhos mais variados". "Se nascerem filhos de pais diferentes, cada um vai competir para coisas diferentes. Os irmãos não competem entre si, o que vai aumentar o sucesso reprodutor no futuro", explicou.

Crias mais adaptáveis


Os peixes nascidos de mães que acasalaram com vários machos nasceram com mais cores, o que para os "guppy" é um indicador de atractibilidade. Além disso, refere o cientista, nascem crias "mais adaptáveis". Aliando isto às previsíveis alterações climáticas, a reprodução poliândrica torna-se "um processo potencialmente adaptativo para as alterações climáticas".

Miguel Barbosa tirou mestrado na Austrália e doutorou-se na Escócia
Miguel Barbosa tirou mestrado na Austrália e doutorou-se na Escócia
"Prevê-se que os ambientes serão mais variáveis, por isso o sucesso para sobreviver é ter filhos diferentes. Isto pode ser uma estratégia de sucesso e muda a nossa visão sobre a selecção sexual",
indicou.

A prática de poliandria na espécie "guppy" pode também justificar o facto de este tipo de peixe, originário do arquipélago de Trinidad e Tobago, ser um dos mais disseminados peixes de água doce no mundo inteiro, com muita resistência.

Segundo Miguel Barbosa, actualmente na Universidade de St. Andrews (Escócia), uma das aplicações práticas do resultado da sua investigação é "maximizar" o potencial de reprodução de peixes em aquacultura, inseminando artificialmente fêmeas com esperma de vários machos para produzir ninhadas com mais diversidade.

Assim será possível obter não só peixes mais diversos como em maior quantidade e sem recorrer a químicos, o que significará mais rendimento, menos gastos e alimentos mais saudáveis.
Os resultados obtidos com os "guppies" podem ser extrapolados para outras espécies, inclusivamente para mamíferos e para os seres humanos, afirma Miguel Barbosa. Olhando por exemplo para os golfinhos, o biólogo afirma que "cada vez é mais comum" as fêmeas procurarem vários machos para acasalar.

Os próximos passos nesta investigação ligam-se com a genética e Miguel Barbosa quer "começar a trabalhar com os genes nestes animais em diferentes condições, saber que consequências moleculares tem a poliandria e se há um gene prevalente que a influencie".

Notícia de Ciência Hoje

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