No passado dia 10 de
Novembro, pelas 18 horas ocorreu a segunda apresentação do Ciclo de Conferências no Museu Nacional de
Arqueologia: Arqueologia e Antropologia…. Territórios de fronteira. Co-organizado por GEEvH, NAP e o
Museu Nacional de
Arqueologia.
Oradora: Susana Carvalho(1,2)
1- Leverhulme Centre for Human Evolutionary Studies, University of
Cambridge, Cambridge, 2 CB 1 QH, United Kindgom.
2- CIAS – Centro de Investigação em
Antropologia e Saúde,
Universidade de Coimbra, 3000-056, Coimbra, Portugal.
scr50@cam.ac.uk
Conferência: "As Origens do Olduvaiense: Serão os chimpanzés (Pan
troglodytes) bons modelos para
a evolução das primeiras tecnologias em África?"
Resumo:
Compreender como e porquê surge o uso de ferramentas em primatas
humanos tem sido um objectivo essencial da arqueologia e antropologia,
desde o aparecimento destas disciplinas. As tecnologias mais antigas
datam de há 2.6 milhões de anos, e as evidências desta indústria
conhecida como “Olduvaiense”, são maioritariamente compostas por
pedras talhadas (líticos) que perduraram no registo arqueológico
(Semaw et al. 1997). As características que permitem discriminar estes
artefactos (i.e. pedras modificadas intencionalmente) são bem
conhecidas dos arqueólogos (Bordes 1961, Leakey 1971,
Tixier et al. 1980, Isaac and Harris 1997).
As tecnologias de percussão mais antigas incluem artefactos
provenientes de escavações na África Oriental (Semaw et al. 1997;
Delagnes and Roche 2005). Desde 1970, muitos estudos analisaram a
tipologia e tecnologia destas colecções (e.g. Leakey 1971; Toth 1985;
Isaac and Harris 1997), mas os martelos e as bigornas foram
consideravelmente desvalorizados, sendo vistos como uma espécie de
“parentes pobres” da tecnologia de talhe.
Durante a década de 60, Jane Goodall observou chimpanzés a fabricar e
usar diversas ferramentas (Goodall 1963) e, um pouco antes, era
descoberto o uso de pedras para partir
nozes entre comunidades de
chimpanzés da África Ocidental (Beatty 1951). Recentemente, a
escavação de um sítio arqueológico de nut-cracking de chimpanzés com
4300 anos BP (Mercader et al. 2007) estabeleceu uma “Idade da Pedra”
recente para esta tecnologia de primatas não-humanos.
Desde 2006, um projecto de investigação interdisciplinar, conjugando
arqueologia e primatologia, investiga o nut-cracking praticado por
chimpanzés em habitat natural, visando caracterizar estes utensílios,
bem como analisar a distribuição espacial e variação regional destas
ferramentas e suas áreas de actividade (Carvalho et al. 2008). O
estudo foca-se no uso de ferramentas nas florestas de Bossou e Diecké
(Guiné Conakry), e utiliza estes primatas não-humanos como modelos,
procurando testar a hipótese que considera terem existido indústrias
de percussão mais antigas, que ainda não terão
sido detectadas no registo arqueológico. Os resultados preliminares
desta investigação contribuíram para a recente proposta de uma nova
disciplina: Arqueologia de primatas (Haslam et al. 2009).
Um laboratório ao ar livre no centro da floresta de Bossou, permite
realizar experiências de nut-cracking, utilizando nozes disponíveis na
floresta (Elaeis guineensis) e nozes estranhas ao habitat local (Coula
edulis) (Matsuzawa 1994, Biro et al. 2003). Os dados recolhidos
durante 5 anos de sessões experimentais revelaram a selecção e uso
preferencial de determinados pares de ferramentas. Os chimpanzés
repetem a combinação de alguns martelos com algumas bigornas de forma
sistemática. O uso repetido dos mesmos pares de ferramentas pode
amplificar as marcas de uso e aumentar a
possibilidade de fractura dos elementos. Este padrão de utilização
sugere que comportamentos semelhantes poderão ter
originado os primeiros episódios de talhe acidental em hominínios
(Mora e de la Torre 2005; Carvalho et al. 2009).
A conduta dolosa da Ciência?
-
Um prémio Nobel da Física, Heinrich Rohrer a escrever acerca das fraudes
em ciência, no Público.
Há 12 anos
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