segunda-feira, novembro 15, 2010

As Origens do Olduvaiense: Serão os chimpanzés (Pan troglodytes) bons modelos para a evolução das primeiras tecnologias em África?


No passado dia 10 de

Novembro, pelas 18 horas ocorreu a segunda apresentação do Ciclo de Conferências no Museu Nacional de

Arqueologia: Arqueologia e Antropologia…. Territórios de fronteira. Co-organizado por GEEvH, NAP e o

Museu Nacional de

Arqueologia.


Oradora: Susana Carvalho(1,2)



1- Leverhulme Centre for Human Evolutionary Studies, University of

Cambridge, Cambridge, 2 CB 1 QH, United Kindgom.

2- CIAS – Centro de Investigação em
Antropologia e Saúde,

Universidade de Coimbra, 3000-056, Coimbra, Portugal.



scr50@cam.ac.uk



Conferência: "As Origens do Olduvaiense: Serão os chimpanzés (Pan

troglodytes) bons modelos para

a evolução das primeiras tecnologias em África?"





Resumo:

Compreender como e porquê surge o uso de ferramentas em primatas

humanos tem sido um objectivo essencial da arqueologia e antropologia,

desde o aparecimento destas disciplinas. As tecnologias mais antigas

datam de há 2.6 milhões de anos, e as evidências desta indústria

conhecida como “Olduvaiense”, são maioritariamente compostas por

pedras talhadas (líticos) que perduraram no registo arqueológico

(Semaw et al. 1997). As características que permitem discriminar estes

artefactos (i.e. pedras modificadas intencionalmente) são bem

conhecidas dos arqueólogos (Bordes 1961, Leakey 1971,

Tixier et al. 1980, Isaac and Harris 1997).



As tecnologias de percussão mais antigas incluem artefactos

provenientes de escavações na África Oriental (Semaw et al. 1997;

Delagnes and Roche 2005). Desde 1970, muitos estudos analisaram a

tipologia e tecnologia destas colecções (e.g. Leakey 1971; Toth 1985;

Isaac and Harris 1997), mas os martelos e as bigornas foram

consideravelmente desvalorizados, sendo vistos como uma espécie de

“parentes pobres” da tecnologia de talhe.



Durante a década de 60, Jane Goodall observou chimpanzés a fabricar e

usar diversas ferramentas (Goodall 1963) e, um pouco antes, era

descoberto o uso de pedras para partir
nozes entre comunidades de

chimpanzés da África Ocidental (Beatty 1951). Recentemente, a

escavação de um sítio arqueológico de nut-cracking de chimpanzés com

4300 anos BP (Mercader et al. 2007) estabeleceu uma “Idade da Pedra”

recente para esta tecnologia de primatas não-humanos.



Desde 2006, um projecto de investigação interdisciplinar, conjugando

arqueologia e primatologia, investiga o nut-cracking praticado por

chimpanzés em habitat natural, visando caracterizar estes utensílios,

bem como analisar a distribuição espacial e variação regional destas

ferramentas e suas áreas de actividade (Carvalho et al. 2008). O

estudo foca-se no uso de ferramentas nas florestas de Bossou e Diecké

(Guiné Conakry), e utiliza estes primatas não-humanos como modelos,

procurando testar a hipótese que considera terem existido indústrias

de percussão mais antigas, que ainda não terão

sido detectadas no registo arqueológico. Os resultados preliminares

desta investigação contribuíram para a recente proposta de uma nova

disciplina: Arqueologia de primatas (Haslam et al. 2009).



Um laboratório ao ar livre no centro da floresta de Bossou, permite

realizar experiências de nut-cracking, utilizando nozes disponíveis na

floresta (Elaeis guineensis) e nozes estranhas ao habitat local (Coula

edulis) (Matsuzawa 1994, Biro et al. 2003). Os dados recolhidos

durante 5 anos de sessões experimentais revelaram a selecção e uso

preferencial de determinados pares de ferramentas. Os chimpanzés

repetem a combinação de alguns martelos com algumas bigornas de forma

sistemática. O uso repetido dos mesmos pares de ferramentas pode

amplificar as marcas de uso e aumentar a

possibilidade de fractura dos elementos. Este padrão de utilização

sugere que comportamentos semelhantes poderão ter

originado os primeiros episódios de talhe acidental em hominínios

(Mora e de la Torre 2005; Carvalho et al. 2009).

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